Nogueira
Accioly, no centro, de cartola e camisa clara, em visita ao Rio de Janeiro (Foto: Arquivo do Museu do Ceará)
|
A
data de hoje assinala 100 anos da queda da oligarquia Nogueira Accioly, depois
de 16 anos encastelado no governo do Ceará (1896-1912). No dia 24 de janeiro de
1912, a população de Fortaleza, impossibilitada de derrotar o oligarca pela via
eleitoral em razão do controle fraudulento das eleições pela oligarquia,
conseguiu depô-lo através das armas. Foram três dias de luta na cidade, com
tiroteios, trincheiras, barricadas, praças depredadas, bondes virados, fábricas
incendiadas e centenas de mortos.
Essa
inédita revolta popular armada em Fortaleza foi a explosão de uma indignação
crescente contra o autoritarismo e desmandos da oligarquia aciolina. Para se
manter no poder por tanto tempo, a oligarquia contou com o apoio político do
Governo Federal e de coronéis do Interior (a “política dos governadores”), e
usou e abusou da fraude eleitoral, voto de cabresto, nepotismo, desvios de
verbas. Ademais, espancou adversários, empastelou jornais oposicionistas e
reprimiu trabalhadores, como foi o caso em que a polícia disparou contra os
catraieiros que ousaram fazer greve a 3/1/1904, matando sete e ferindo 40.
A
partir dessa chacina, a oposição política à oligarquia cresceu na Capital
reunindo oligarquias dissidentes, profissionais liberais, comerciantes, populares
e intelectuais como Rodolfo Teófilo, João Brígido e Antônio Sales.
O
decisivo apoio do “salvacionismo” (1911), campanha encetada por militares e
civis para moralizar a política brasileira e “salvar” os estados do arbítrio
das oligarquias então no poder (e em seu lugar entronizar oligarquias
dissidentes), encorajou a oposição a lançar o militar salvacionista Franco
Rabelo às eleições de 1912 para o governo estadual, contra o candidato indicado
por Accioly.
A
campanha pró-Rabelo galvanizou a insatisfação da população citadina e a
mobilizou através de comícios, cordéis e panfletos. Duas grandes passeatas
foram realizadas (as primeiras da história cearense) com milhares de
acompanhantes: as das moças e das crianças. Na primeira (dia 14/1/12), nenhuma
repressão ocorreu, mas na passeata das crianças (21/1/12), surpreendentemente,
a cavalaria policial investiu sobre a massa, pisoteando, atirando e matando uma
criança. Foi o estopim: na noite desse dia, 21, iniciou-se tiroteio entre
populares e polícia que só terminaria no dia 24 com a deposição de Accioly. A
vitória foi intensamente festejada na cidade.
Franco
Rabelo foi eleito, mas, dois anos depois foi deposto por intervenção federal no
Estado. Daí em diante, apesar de continuarem a existir grupos oligárquicos no
Ceará, não houve mais oligarquia monolítica no Estado.
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.