“A libertação dos camponeses foi conquistada com sangue, suor e mortes” |
Com
o auditório da Câmara de Vereadores completamente lotado e a participação de
representativos nomes da sociedade
paraibana, que integraram a Mesa da sessão, entre os quais Alexandre
Eduardo, secretario adjunto da
Secretária de Agricultura, representando
o Governador Ricardo Coutinho, o juiz de direito Antônio Amaral, Laura Aquino, em nome da família de Osmar de Aquino, e
Agassiz Almeida Filho , representando a UEPB, além do sociólogo Anacleto
Julião, filho do homenageado Francisco Julião, Guarabira viveu movimentada
solenidade .
Antes,
em dias anteriores, as Câmaras de Vereadores de Sapé e Mari, PB, realizaram
sessões homenageando estas lideranças
históricas.
Discurso
aguardado com interesse por sua vinculação às lutas políticas de Guarabira,
Agassiz Almeida recordou os seus laços políticos e de amizade
com Osmar de Aquino, deputado constituinte de 1947, como Agassiz o
fora em 1988. Prosseguindo, acentuou o orador: “A
abolição dos escravos, em 13 de maio de 1888, veio da pena de uma princesa; a
libertação dos camponeses, 70 anos depois, foi conquistada com sangue, suor e
mortes, após a criação das Ligas Camponesas de 1954 e 1958, na Galiléia, PE, e
em Sapé, PB.
“Foi em Sapé
e na Galiléia, em Vitória de Santo Antão que, há mais de meio século, as
Ligas Camponesas nasceram, cresceram e
estenderam este grito de libertação para o Brasil: O camponês não será mais
escravo de ninguém.
“Aqui,
nesta região, mobilizou-se na segunda metade do século XX o mais vigoroso
movimento de massa camponesa da América Latina.
O
que nos falam aqueles 50 anos passados? Homens rudes e simples, às centenas,
carregados de sofrimentos, marchavam para se libertar de quatro séculos de
latifúndio.
- Para onde ides camponeses ?- Gritou um
sacerdote.
- Vamos lutar pela liberdade e por terras para
trabalhar.
Há
na vida dos povos, como na dos homens, momentos de inspiração soberana. Vi,
nesta região, multidões de camponeses carregarem o vigor das grandes
indignações .
Imaginai
as ruas e campos destas regiões cinqüenta anos atrás. Camponeses, às centenas, condenados a uma forma de vida
pior do que a escravidão . Faces
descarnadas e pálidas. Olhares temerosos. Passos trôpegos. Semblantes a
estamparem velhice precoce, em corpos esquálidos e famélicos.
Como
encontramos o camponês nas várzeas férteis do Nordeste? Num cenário desolador.
Crianças em torno de 8 a
10 anos arrastadas ao eito da cana-de-açúcar , jovens envelhecidos aos 20
anos. Aos 30, abatidos pela morte.
Que
tarefa nos impusemos!
Primeiro,
derrotamos esta cultura da passividade cruel: “Deus quis assim.” Depois,
vencemos o medo do latifúndio. Por fim, apontamos aos camponeses que eles
precisavam lutar pelos seus direitos e por terra para trabalhar. Esta foi,
decerto, a revolução camponesa que desencandeamos.
Que
drama de profunda dimensão!
Legiões
de campesinos egressos de pesadas iniqüidades que séculos de opressão lhes
lançaram, gritavam por liberdade .”
Com
a palavra, o sociólogo Anacleto Julião destacou: “Francisco Julião e Agassiz
Almeida, ao lado de outras lideranças, fizeram a revolução camponesa no Brasil,
cujo grande objetivo foi, sem dúvida, romper quatro séculos de opressão
latifundiária. Depois deste movimento revolucionário, o camponês se investiu na
condição de cidadão, com direitos e deveres”.
Em
Sapé, durante a sessão da Câmara de Vereadores reunida com o mesmo propósito de
homenagear aqueles vultos históricos, Anatólio Julião, representando seu pai,
em brilhante discurso exaltou o relevante papel que desempenharam Francisco
Julião e Agassiz Almeida ao desafiar as forças latifundiárias no Nordeste, e apontar
aos milhares de camponeses os caminhos da liberdade.
Encerrando
a sessão, o vereador Beto Meireles, liderança vigorosa e renovadora de Guarabira, relembrou a importância para a
história das lutas camponesas no Brasil de personalidades como as de Francisco
Julião, Agassiz Almeida, João Pedro
Teixeira, Gregório Bezerra, Pedro Fazendeiro e Clodomir Moraes .
Enviado por Jorge Brito Centro
de Referência dos Direitos Humanos
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