Trazido acorrentado a Roma, onde terminou os seus dias na arena, devorado pelas feras selvagens, tornou-se objeto de afetuosas atenções da parte das várias comunidades cristãs nas cidades por onde passou. Muitos se desdobravam para evitar-lhe a pena capital, mas Inácio desejava o martírio mais que todas as coisas e suplicava aos irmãos de Roma que não lhe impedissem de dar seu testemunho intervindo a seu favor junto às autoridades imperiais: “Deixem-me ser a comida das feras, pelas quais me será dado saborear Deus. Eu sou o trigo de Deus. Tenho de ser triturado pelos dentes das feras, para tornar-me pão puro de Cristo”.
A ânsia de alcançar Deus, de encontrar Cristo, expressa com intensidade que faz lembrar são Paulo, é característica das primeiras comunidades cristãs, no ardente desejo da iminente parusia. Ele gostaria que seu corpo encontrasse sepultura na barriga de uma fera faminta, de modo que seus funerais não ficassem a cargo de ninguém! Mas os cristãos de Antioquia veneravam, desde a antiguidade, o seu sepulcro nas portas da cidade e já no século IV celebravam a sua memória a 17 de outubro, dia adotado agora também pelo novo calendário, em vez de 1º de fevereiro.
As suas palavras inflamadas de amor a Cristo e à Igreja ficaram na lembrança de todas as gerações futuras. Quem as escreve é místico e bispo, isto é, homem que encarna em si as prerrogativas da autoridade e os carismas do espírito. Os dois elementos fundem-se harmonicamente num alerta à unidade visível da Igreja, que, aliás, é dado constante no ensinamento de santo Inácio: “Onde está o bispo, aí está a comunidade, assim como onde está Cristo Jesus aí está a Igreja católica”, escreve na carta endereçada ao então jovem bispo de Esmirna, são Policarpo. As expressões Igreja católica e Cristianismo são neologismos atribuídos à sua criação.
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