De nobilíssima família portuguesa, filha do sr. Rui Gomes da Silva e de dona Isabel de Menezes, nasceu Beatriz em 1424, educada desde pequena no exercício das virtudes cristãs; em sua formação espiritual tiveram muita influência os franciscanos e as controvérsias sobre o dogma da Imaculada Conceição. “Era formosíssima, prudente, afável, inteligente, composta e de muita gentileza, devotíssima da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, a quem sempre invocou como sua advogada e padroeira”, diz uma biógrafa da Santa.
Isabel, Infanta de Portugal, tornada rainha de Castela, escolheu Beatriz para sua primeira dama de honra. No luxo e no fausto, bem como em meio à leviandade da vida na corte, manteve o seu coração fiel ao propósito de amar só a Deus, embora não fosse indiferente ao calor humano dos que a rodeavam.
Invejada pela rainha, esta tentou eliminá-la da corte trancando-a dentro de um grande cofre ou arca que lhe serviria de túmulo. Obrigada pelas circunstâncias, a rainha teve de soltá-la, encontrando-a viva ainda, depois de 3 ou 4 dias. Esses dias foram para ela, dentro daquele cofre, dias de riqueza espiritual em revelações, visões, meditações e sérias reflexões e propósitos. Uma vez libertada, demite-se do serviço real e parte para Toledo; dirigiu-se ao antigo convento de São Domingos de Silos, onde permaneceu, não como freira, mas como pensionista. E como a formosura do seu rosto foi a causa de tantas discórdias na corte, cobriu sua face com um véu branco durante o resto da vida.
Trinta anos se passaram, e Beatriz esperava a hora da realização do que a Virgem Maria lhe dissera em uma visão, quando estava no cofre: que ela fundaria uma Ordem religiosa em honra da Imaculada Conceição. Nesses trinta anos, sua fé se consolidou e se aperfeiçoou. Sua esperança firmou-se somente em Deus, como uma rocha inabalável, e assim se preparou longamente para executar os planos divinos.
Certo dia Beatriz foi visitada por Isabel, a Católica, filha daquela rainha que tentara matar Beatriz; comunicando-lhe esta a sua intenção de fundar uma casa religiosa dedicada ao culto da Imaculada Conceição, a rainha se prontificou a ajudar sua prima e logo lhe ofereceu o palácio ao lado da igreja de santa Fé. Beatriz reconheceu a “hora da Providência”. Surgiu assim o primeiro mosteiro da Ordem da Imaculada Conceição. Beatriz levou consigo 12 jovens.
Beatriz compôs uma Regra e enviou-a a Roma para ser aprovada. O papa Inocêncio VIII prometeu aprová-la, porém mandou que, enquanto isso, observasse uma regra já aprovada. Foi escolhida a de Cister. A Bula de aprovação da Ordem chegou às mãos de Beatriz de maneira miraculosa, por intervenção de são Rafael arcanjo, por quem ela possuía muita devoção. A tomada de hábito de Beatriz com suas doze companheiras foi marcada pelo bispo diocesano para o dia 9 de agosto. Dez dias antes, Nossa Senhora apareceu a Beatriz e lhe comunicou que morreria na hora de realizar o sonho acalentado há tantos anos. Assim ela preparou a terra e lançou a semente que germinaria pelos séculos afora.
Beatriz
faleceu no dia marcado para a tomada de hábito; como ela adoecera antes, pediu
o hábito e o bispo lho concedeu. Muitos dos convidados para a festa da
profissão puderam ver os resplendores que cercaram Beatriz morta. Oito dias
após esta data, as 12 noviças fizeram profissão religiosa, por determinação do
provincial dos franciscanos, frei João de Tolosa, e elegeram Filipa da Silva,
sobrinha de santa Beatriz, para primeira abadessa.
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