A pedra fica na nascente do rio Batateiras, na Chapada do Araripe - Eldinho Pereira |
Conta-se no Cariri que a pedra da nascente do rio
Batateiras, o maior olho d’água da Chapada do Araripe, um dia irá rolar,
inundando toda a região e despertando uma serpente que vem devolver as terras
dos índios escravizados pelos brancos.
A lenda da catástrofe, seguida da volta do povoamento dos
índios cariris, contada há séculos, ganha nova leitura com a pesquisa do
historiador Eldinho Pereira. O texto inédito “A Pedra da Batateiras e a
restauração do ‘Paraíso’” reconta a história dos índios cariris e as origens da
lenda que cerca a nascente.
Pesquisador do Instituto da Memória do Povo Cearense
(Imopec), com sede em Fortaleza, Eldinho explica que muitos aspectos da lenda
são recuperados por relatos que chegaram até os dias atuais.
“Desde criança tenho ouvido histórias fantásticas. Comecei a
colocar alguma coisa no papel e os depoimentos de pessoas locais diferentes
acabaram convergindo”, detalha o historiador, natural de Farias Brito, no
Cariri.
Eldinho é adepto da tese do cineasta Rosemberg Cariry, para
quem os movimentos de Canudos, liderado por Antônio Conselheiro, de Juazeiro do
Norte, por Padre Cícero, e do Caldeirão, pelo beato José Lourenço,
“constituíram verdadeiras tentativas de recriações do ‘Paraíso’ dos índios
cariris e dos mestiços despojados de suas próprias terras”.
O historiador relaciona a lenda da “pedra da Batateiras” à
percepção dos índios cariris de que a região um dia abrigou mar.
“Como os índios não tinham conhecimentos específicos,
apelaram para o imaginário. Para eles, o mar tinha se evacuado, descido para o
subsolo e a água voltaria pela nascente do rio Batateiras”, conta Eldinho.
O pesquisador cita ainda a importância de movimentos como a
tentativa de reorganização de povos cariri no sítio Poço Dantas, na zona rual
do Crato, onde vivem entre 30 e 40 famílias descendentes da etnia.
Eldinho Pereira conta que, sob a ótica católica, a lenda da
serpente é trocada por uma baleia que habitaria o subterrâneo do centro do
Crato. “Quando ela sair, anunciará o novo tempo, expulsando os homens maus.
Anjos suspenderiam Juazeiro e a água passaria por baixo”, relata.
As forte chuvas no Crato, em janeiro, foram motivo para que
a população da cidade lembrasse a lenda. “A pedra da Batateira rolou”,
comentava-se.
Segundo Eldinho, Antônio Conselheiro teria tomado
conhecimento da lenda em sua passagem pelo sul do Ceará e Nordeste da Bahia,
onde também habitavam os cariris. Daí as menções de que o “sertão vai virar
mar” em seus discursos.
Publicada originalmente no portal O Povo Online
Gostei, Muito interessante ainda naum conhecia alenda...!
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