17 de agosto de 2011

Nelson Piquet: por que ele foi o mais genial da F-1 por Elder Dias


Brasileiro inovou a categoria como ninguém, antecipando revoluções. Existem várias formas de classificar "ídolos" em geral, seja na música, nas artes, no esporte em geral. Assim também é na Fórmula 1. Há sempre uma relação definitiva dos dez maiores pilotos de todos os tempos. Muita gente acha que é Ayrton Senna, especialmente no Brasil; muitos também consideram que é o multicampeão Michael Schumacher, especialmente no Brasil (os pós-Senna ou mesmo os anti-Senna); e alguns ainda pensam que ninguém superou Juan Manuel Fangio até hoje. Especialmente na Argentina.

Uma coisa é certa: no topo de uma lista dessas, nunca vão encontrar Nelson Piquet, que hoje faz 59 anos.

É que, embora tivesse um talento imenso, Piquet também nunca fez marketing para ser o top dos tops: aliás, ele era a essência do antimarketing. Um personagem interessantíssimo pelo que fazia e falava, mas que hoje morreria queimado no fogo da Santa Inquisição do Politicamente Correto. Um herético de macacão, capacete e balaclava (alguém ainda fala "balaclava"?).

Mas tem um outro ranking no qual Nelson, o Pai, deveria ser sempre citado como o maior de todos: o dos pilotos que, na F-1, foram mais do que apenas pilotos. Os gênios.

E digo "gênio" no sentido amplo da palavra. Dentro do cockpit e fora dele.

Enquanto não estava como sardinha na lata atado ao cinto de segurança, Nelson Piquet desenvolveu ideias geniais para a Fórmula 1 de sua época (correu na categoria de 1978 a 1991). Foi, juntamente com o projetista Gordon Murray, um revolucionário da tecnologia. Ao contrário dos robozinhos de carne que guiam pelos circuitos-autorama de hoje em dia, o brasileiro pensava no carro, amava mexer no brinquedinho para depois guiá-lo. Chamá-lo de mecânico não é menosprezo: é realidade, embora meia verdade. Piquet era, isso sim, um senhor engenheiro mecânico, honoris causa.

Enumerando algumas coisas que nasceram com a dupla Piquet-Murray: o balanço de freio — que permite ao piloto deslocar da melhor forma o equilíbrio da carga de frenagem; a suspensão hidropneumática — que driblava o regulamento da época, alterando a altura do carro parado quando se movimentava; o aquecimento de pneus – com aquela manta elétrica; e a mais espetacular de todas, o pit stop!

Isso mesmo: para quem ainda não sabe, foi Nelson Piquet quem inventou, em 1982 — quando largava com o carro mais leve que todo mundo, ganhava tempo e só depois enchia o tanque — aquilo que hoje virou até espetáculo para torcedor/telespectador. Em várias categorias do automobilismo, há até mesmo torneio de pit stops.

Eis aí uma pérola em forma de vídeo: o primeiro reabastecimento de um F-1 durante um GP (será que só eu fiquei agoniado vendo e revendo isso e vendo e revendo a calma baiânica dos mecânicos para trocar pneu/reabastecer?).

Há muito mais a se contar sobre o brasileiro que nunca quis ser referência da Pátria ou herói nacional — e por isso, quem sabe, talvez nunca tenha caído no gosto da Rede Globo —, mas paremos por aqui. Por hoje, porque Nelson Piquet sempre rende muito material, muitas histórias, muita polêmica, muita diversão. E aqui é espaço para isso tudo.

Ah sim, vão questionar: tudo bem, mas e dentro do cockpit? Tudo bem, então. Dentro do carro, Piquet também nunca foi de andar atrás de ninguém: sempre que tinha um bom carro (não precisava nem ser o melhor), disputava pódios e vitórias. Um brasileiro que era tão técnico quanto arrojado. Nem precisa dizer que era veloz, já que não se pode conceber que um campeão mundial seja piloto "lento", quanto mais um tri das pistas — isso, Piquet também foi tri...

Números? Foram 204 GPs, 3 títulos, 60 pódios, 23 vitórias, 24 pole positions e 23 voltas mais rápidas. Razoável, não?

Ao volante das McLarens, Brabhams, Williams, Lotus e Benettons que pilotou, a genialidade de Piquet se mostrava parelha à de outros nomes, como Senna, Alain Prost e Niki Lauda. Foi por meio dela que conseguiu a que considero — e não estou sozinho nisso — a mais genial ultrapassagem da história da F-1: o drible em Ayrton no GP da Hungria de 1986. Se fosse futebol, era lance de Garrincha!

Publicado originalmente no portal do Jornal Opção

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