Brasileiro inovou a categoria como ninguém, antecipando
revoluções. Existem várias formas de classificar "ídolos" em
geral, seja na música, nas artes, no esporte em geral. Assim também é na Fórmula 1. Há sempre uma relação definitiva
dos dez maiores pilotos de todos os tempos. Muita gente acha que é Ayrton
Senna, especialmente no Brasil; muitos também consideram que é o multicampeão
Michael Schumacher, especialmente no Brasil (os pós-Senna ou mesmo os
anti-Senna); e alguns ainda pensam que ninguém superou Juan Manuel Fangio até
hoje. Especialmente na Argentina.
Uma coisa é certa: no topo de uma lista dessas, nunca vão
encontrar Nelson Piquet, que hoje faz 59 anos.
É que, embora tivesse um talento imenso, Piquet também nunca
fez marketing para ser o top dos tops: aliás, ele era a essência do
antimarketing. Um personagem interessantíssimo pelo que fazia e falava, mas que
hoje morreria queimado no fogo da Santa Inquisição do Politicamente Correto. Um
herético de macacão, capacete e balaclava (alguém ainda fala
"balaclava"?).
Mas tem um outro ranking no qual Nelson, o Pai, deveria ser
sempre citado como o maior de todos: o dos pilotos que, na F-1, foram mais do
que apenas pilotos. Os gênios.
E digo "gênio" no sentido amplo da palavra. Dentro
do cockpit e fora dele.
Enquanto não estava como sardinha na lata atado ao cinto de
segurança, Nelson Piquet desenvolveu ideias geniais para a Fórmula 1 de sua
época (correu na categoria de 1978 a 1991). Foi, juntamente com o projetista
Gordon Murray, um revolucionário da tecnologia. Ao contrário dos robozinhos de
carne que guiam pelos circuitos-autorama de hoje em dia, o brasileiro pensava
no carro, amava mexer no brinquedinho para depois guiá-lo. Chamá-lo de mecânico
não é menosprezo: é realidade, embora meia verdade. Piquet era, isso sim, um
senhor engenheiro mecânico, honoris causa.
Enumerando algumas coisas que nasceram com a dupla
Piquet-Murray: o balanço de freio — que permite ao piloto deslocar da melhor
forma o equilíbrio da carga de frenagem; a suspensão hidropneumática — que
driblava o regulamento da época, alterando a altura do carro parado quando se
movimentava; o aquecimento de pneus – com aquela manta elétrica; e a mais
espetacular de todas, o pit stop!
Isso mesmo: para quem ainda não sabe, foi Nelson Piquet quem
inventou, em 1982 — quando largava com o carro mais leve que todo mundo,
ganhava tempo e só depois enchia o tanque — aquilo que hoje virou até
espetáculo para torcedor/telespectador. Em várias categorias do automobilismo,
há até mesmo torneio de pit stops.
Eis aí uma pérola em forma de vídeo: o primeiro
reabastecimento de um F-1 durante um GP (será que só eu fiquei agoniado vendo e
revendo isso e vendo e revendo a calma baiânica dos mecânicos para trocar
pneu/reabastecer?).
Há muito mais a se contar sobre o brasileiro que nunca quis
ser referência da Pátria ou herói nacional — e por isso, quem sabe, talvez
nunca tenha caído no gosto da Rede Globo —, mas paremos por aqui. Por hoje,
porque Nelson Piquet sempre rende muito material, muitas histórias, muita
polêmica, muita diversão. E aqui é espaço para isso tudo.
Ah sim, vão questionar: tudo bem, mas e dentro do cockpit?
Tudo bem, então. Dentro do carro, Piquet também nunca foi de andar atrás de
ninguém: sempre que tinha um bom carro (não precisava nem ser o melhor),
disputava pódios e vitórias. Um brasileiro que era tão técnico quanto arrojado.
Nem precisa dizer que era veloz, já que não se pode conceber que um campeão
mundial seja piloto "lento", quanto mais um tri das pistas — isso,
Piquet também foi tri...
Números? Foram 204 GPs, 3 títulos, 60 pódios, 23 vitórias, 24
pole positions e 23 voltas mais rápidas. Razoável, não?
Ao volante das McLarens, Brabhams, Williams, Lotus e
Benettons que pilotou, a genialidade de Piquet se mostrava parelha à de outros
nomes, como Senna, Alain Prost e Niki Lauda. Foi por meio dela que conseguiu a
que considero — e não estou sozinho nisso — a mais genial ultrapassagem da história
da F-1: o drible em Ayrton no GP da Hungria de 1986. Se fosse futebol, era
lance de Garrincha!
Publicado
originalmente no portal do Jornal Opção
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.