Maria Antonieta de 1775 - Museu Antoine Lécuyer em Paris |
Recentemente vi o filme “Maria Antonieta” de Sofia Coppola e me surpreendi com a retratação da vida da Rainha francesa. Todos que estudaram história no colégio devem se lembrar da Revolução Francesa e seus antecedentes. Eram divulgados pelos revolucionários panfletos com frases supostamente ditas pela Rainha, como a famosa “Se não têm pão, que comam brioches”. É exatamente para esclarecer as difamações que até hoje pairam sobre as cabeças dos jovens estudantes de história no colégio e dos adultos interessados que escrevo este artigo.
Maria Antonieta Josefa Joana de Habsburgo-Lorena foi arquiduquesa da Áustria e Rainha consorte de França. Enviada aos 14 anos por sua mãe para consolidar a amizade existente entre França e Áustria em um casamento com o delfim francês Luís Augusto de Bourbon, que, posteriormente, se tornaria o Rei Luís XVI da França.
Muitos devem conhecer a fama que a Rainha tinha por frequentar muitas festas das noites parisienses, pelos bailes de máscaras e por sua rebeldia quanto à corte de Versalhes. Muito verdade que Maria Antonieta era, sim, como chamamos hoje de “festeira” e foi aí que começaram os boatos sobre seu comportamento. O povo francês se dividia entre odiá-la e amá-la. Muitos a admiravam por sua conduta extrovertida e caridades outros a odiavam por ser austríaca e pelas suas maneiras frívolas.
E com a coroação de Luís XVI, aumentou a pressão sobre a Rainha para que desse ao povo um herdeiro. Era de conhecimento geral que o casamento real não era dos melhores, já que, por muito tempo este não foi consumado. Isto foi registrado com sucesso no filme em destaque. Porém , depois de uma fase de grande pressão da corte e do povo eis que nasce Maria Teresa Carlota, primeira filha do casal. Por ser menina, não superou as expectativas, porém a Rainha disse “Pobre menininha, não és o que se desejava, mas não é por isso que me és menos querida. Um filho seria propriedade do Estado. Será minha, terás o meu carinho indiviso; dividirá comigo toda minha felicidade e aliviarás os meus sofrimentos...”. Maria Antonieta ainda teve mais quatro filhos, sendo que dois morreram, um em aborto e outro poucos dias depois de nascer.
Também foi alcunhada de “Madame Déficit” por suas gastanças com luxo enquanto seu povo passava fome, mas, na verdade, a Rainha não gastava tanto quanto o povo pensava e os panfletos divulgavam, acredita-se que a rainha cortou custos pessoais em favor das caridades que praticava. Esta foi a primeira grande calúnia. E ainda continuava a pairar no ar certa desconfiança na Rainha por esta ser austríaca, alguns a acusavam de ser “bode expiatório”.
A campanha violenta praticada pelos revolucionários tinha como alvo principal a Rainha. Cartazes e panfletos eram espalhados em bares e ruas juntamente com a divulgação das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade. Estes continham pinturas falsas da Rainha em orgias com membros da corte e divulgações alteradas dos gastos feitos por ela para o luxo da nobreza.
Maria Antonieta, no entanto, era interessada pela filosofia política, história, e literatura. Ela entendia a situação em que o seu país se encontrava. Existem registros históricos que mostram, claramente, que, na época de sua coroação, Maria Antonieta se angustiava com a situação dos pobres. Em uma de suas cartas à mãe, ela chega a comentar o alto preço do pão, que era o principal motivo da fome. E que não seja verdade a polémica frase “Se não têm pão, que comam brioches”. O que uma boa propaganda enganosa não faz com um povo furioso, não é?
E nada evitou que a fúria dos revolucionários caísse sobre ela, era o início da revolução. Em 5 de Outubro de 1789, uma marcha de mulheres (e alguns homens disfarçados) irrompeu por Versalhes exigindo o sangue de Maria Antonieta. A família real foi aprisionada Palácio das Tulherias até que, em 1792 enquanto tentavam uma fuga, foram reconhecidos e detidos. Episódio conhecido como a “Noite de Varennes”.
Houve tentativas de acordo com os revolucionários e secretamente com a Áustria, para interceder na França, mas aconteceu início a guerra entre os dois países, explodiu a revolução e o casal real foi julgado por traição. Era o fim da monarquia. Luís XVI foi guilhotinado em 21 de janeiro de 1793.
Foi chamada de “Viúva Capeto” que era sobrenome dos ancestrais de Luís. E ainda, no dia de sua execução, foi humilhada tendo que desfilar pelas ruas de Paris numa carruagem aberta, sujeita a todos os xingamentos da população. Maria Antonieta foi guilhotinada em 16 de Outubro de 1793, tendo sua cabeça espetada num pau e exibida pelas ruas de Paris.
Penso que, como o filme me iluminou para com pensamentos sobre a eterna Rainha Maria Antonieta, este artigo – e se possível, também o filme – ilumine e esclareça a mente do leitor sobre os boatos enganosos em relação à Rainha e de como não foram só de flores a Revolução Francesa. Era muito sangue derramado em favor de ideias e direitos que por muito tempo não foram cumpridos por aqueles que prometeram.
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