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20 de dezembro de 2010

Os cinemas do Crato, por Emerson Monteiro


O derradeiro filme que vi num dos cinemas cratenses foi Dança com lobos, com Kevin Costner, no Cine Cassino, pertencente a Mário Correia, durante sessão noturna de meio de semana. Com isso, para mim se fechavam as cortinas dos históricos cinemas, nesta terra de cultura e educação. Ainda lembro com intensidade grandes filmes que vi no Cine Moderno, sessões das 16h dos sábados e domingos. As séries das 14h, no Cassino, no Moderno, superlotadas, gente em pé, corredores tomados, assobios, gritos, palmas, calor de saúna, suor de escorrer pelo pescoço, fachos dos projetores cruzando o escuro da sala, pessoas frenéticas em movimento constante quase a sessão toda, enormes fila na entrada, meninos vendendo revistas em quadrinhos, tabuleiros de bombons, carros de pipoca do lado de fora, ventiladores de coluna zoando alto, recepcionistas com laterna indicavam as poltronas vazias aos retardatários e a sonorização característica para abrir as cortinas (zuuuuuuuum, num sinal elétrico demorado), em preparação ao espetáculo, etc. A reforma do Moderno pelo seu derradeiro proprietário, Macário de Brito Monteiro, sucessor do tio Ormínio de Brito, foi acontecimento que marcou época e a história da cidade.

Depois, abriria suas portas em noite memorável o Cine Educadora. Um outro teatro de inolvidáveis películas trazidas a público. Na sua inauguração, exibiu Os cavaleiros da távola redonda, com Robert Taylor e Ava Gardner, onde não pude entrar por ter menos de 14 anos. Era uma sala confortável, cheia de janelas venezianas, de poltronas estufadas, espaçosa, um luxo só.

Já sumira o Cine Rádio, da Rádio Araripe, na Rua Nélson Alencar, onde assistira O cangaceiro, sucesso mundial do diretor brasileiro Lima Barreto, junto com meus pais. Também até 14 anos, mas acompanhado conseguira entrar com o coração aos pulos. Uma semana antes da idade mínima ainda cheguei a ser barrado na entrada do Moderno, para minha contrariedade. O Comissariado de Menores, ao qual depois pertenceria, funcionava com presteza e eficiência, terror da garotada ansiosa pelos filmes proibidos, sempre os mais procurados. Nesse meio tempo de salas de exibição maiores, uma experiência de cinemas menores aconteceu em paralelo. José Hélder França (o poeta Dedé França), na década de 60, chegara a iniciar, pelos bairros, rede alternativa que exibia filmes na bitola 16mm, no entanto a proposta durou poucos meses.

Lembro desses cinemas menores, um na esquina de cima do Colégio Diocesano (Rua Ratisbona), o Cine São Francisco, e outro no Bairro do Seminário, o Cine São José. Se a memória não me engana, houve também outro nas imediações da Igreja de São Miguel, na Rua da Cruz, ainda a ser confirmado pelos memorialistas. Em um dos armazéns existentes no final da Rua Santos Dumont, proximidade dos postos de Antônio Almino de Lima, quiseram, na primeira metade da década de 60, também montar um cinema em 16mm. Porém a tentativa frustrara nas primeiras sessões; a máquina emperrava após iniciada a projeção. Na primeira noite, recebemos saídas para a noite seguinte. Voltamos, eu e um operário de meu pai. De novo não passou da metade do filme. Retornamos na terceira e última noite. Pois, quando a máquina quebrou deu-se por perdido e até o dinheiro dos presentes eles devolveram.

Tenho notícias de outro cinema do Crato, que não cheguei a conhecer. Sei dele através dos escritos de Florisval Matos, o Cine Paraíso, que funcionou em prédio da Praça da Sé, no quarteirão onde ora existe a loja Hippie Chic e que antes abrigara a Cooperativa do Banco do Brasil e a Biblioteca Municipal.

Jackson Bola Bantim por sua vez nos informou que seu bisavô, Luiz Gonzaga de Oliveira (Gonzaguinha), nascido no Crato na segunda metade do século 19, fotógrafo, aqui acompanhou a visita de um grupo francês que exibia filmes pelo interior cearense. Interessado na nova arte, viajou a cavalo até Fortaleza, lá adquiriu um projetor e fundou, no prédio n.º 25 da Rua Miguel Limaverde, o primeiro cinema cratense, denominado Lanterninha Mágica, isso bem nos primeiros anos do século XX.

Eis, portanto, ligeiro apanhado da história das salas de cinema no Crato, anotada nesta fase em que aguardamos o retorno de um estabelecimento que corresponda, em nossa comunidade, ao progresso avançado da apreciada e resistente Sétima Arte no resto do mundo, pois no momento, para contrariedade dos muitos apreciadores, não há um único lugar de exibição de filmes em nossa cidade.

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