Começa nesta terça (17) a etapa decisiva da campanha de 2010. A fase em que muda o horário da novela e o eleitor é convidado a prestar mais atenção nos candidatos.
Eleição e mineração, diz o brocardo, só depois da apuração. Numa disputa encarniçada como a que travam Dilma Rousseff e José Serra a certeza é ante-sala do equívoco.
Porém, os exemplos recolhidos da história permitem sustentar que Dilma Rousseff chega à propaganda eleitoral eletrônica com cara de favorita.
No período pós-redemocratização, houve no Brasil cinco eleições presidenciais. Em quatro, repetiu-se um mesmo fenômeno.
O candidato que chegou ao horário de TV, em agosto, à frente nas pesquisas de opinião conquistou a cadeira de presidente.
Foi assim em 1989 (Collor), 1998 (FHC), 2002 (Lula) e 2006 (Lula de novo). O único ponto fora da curva, 1994, veio acompanhado de boa explicação.
Naquele ano, Fernando Henrique Cardoso deixara o ministério da Fazenda de Itamar Franco para vender-se ao eleitorado como candidato da estabilização da moeda.
Na Esplanada, FHC reunira em torno de si os técnicos que haviam dado à luz o Plano Real. Nos palanques, colheu os dividendos da vitória sobre a superinflação.
Mal comparando, FHC era a Dilma daquela época. Carregava a marca da continuidade. Antes de virar ministro de Itamar –primeiro no Itamaraty, depois da Fazenda— cogitara abandonar a carreira política.
Suspeitava que o eleitor de São Paulo não o reconduziria à cadeira de senador, o máximo que as urnas lhe haviam concedido até então.
Pois bem. Foi ao meio-fio na rabeira de Lula nas pesquisas. Dois meses antes de chegar à TV, surfou sobre curva ascendente. E não tardou a ultrapassar o rival.
Vítima do Real, um plano contra o qual deblaterara, o Lula de 2010 enxerga na exceção de 1994 um tônico que levará à confirmação da regra observada nas outras quatro eleições.
Em privado, Lula diz que FHC prevaleceu sobre ele um par de vezes porque o eleitor o via como ameaça ao processo de estabilização da economia.
Agora, diz o presidente, o brasileiro preferirá Dilma a Serra porque enxerga nela a continuidade de um governo que, para além do êxito econômico, distribuiu renda.
Derrotado por Lula em 2002, Serra vê-se compelido a jogar todas as fichas na televisão em sua segunda tentativa de chegar ao Planalto. Tem um mês e meio para seduzir o eleitorado.
Encontra-se atrás de Dilma em todas as pesquisas. O último Datafolha, divulgado na sexta (13), dimensionou em oito pontos percentuais o fosso que o separa do empate.
Mais do que se igualar à pupila de Lula, Serra terá de produzir uma virada. De novo, a história não o favorece.
Se conseguir o feito, Serra vai ao verbete da enciclopédia como um caso único. A experiência mostra que a TV se presta mais à consolidação do que à mudança do voto.
Assim, se Lula for capaz de manter até setembro os votos que amealhou para Dilma nos meses anteriores, a chance de convertê-la em sua sucessora é muito alta.
Se a equipe de marketing comandada por João Santana, a serviço do PT, conseguir adensar o cesto de votos da candidata oficial, o triunfo pode se dar no primeiro turno.
Uma outra coincidência histórica parece conspirar a favor de Dilma: nas últimas cinco sucessões, todos os eleitos prevaleceram sobre seus rivais em Minas Gerais.
Neste caso, não há exceções. Considerando-se a apuração final dar urnas, desprezadas as vírgulas, Collor bateu Lula em Minas, no ano de 1989, por 36% a 23%. Em 1994, Lula foi, de novo, derrotado em Minas por FHC: 65% a 22%. Em 1998, ano da reeleição de FHC, os eleitores mineiros voltaram a preterir Lula: 56% a 28%. Em 2002, uma inversão de papéis. Candidato do PSDB numa fase em que as crises roíam os efeitos do Real, Serra foi batido por Lula em Minas: 53% a 23%. Em 2006, ano em que os “aloprados” do PT fizeram a disputa deslizar para o segundo turno, Lula venceu o tucano Geraldo Alckmin em Minas por 51% a 41%.
Para desassossego do Serra 2010, os institutos de pesquisa informam que, a despeito de dispor da companhia do popular Aécio Neves, Dilma já o ultrapassou em Minas.
Considerando-se os dados do Datafolha, Dilma deu salto na terra de Aécio, o grão-duque tucano. Há 20 dias, ela tinha 35% das intenções de voto. Foi a 41%.
Serra, que dispunha de 38% no Estado, deslizou para 34%. Está, portanto, sete pontos atrás de Dilma na preferência do eleitorado mineiro.
Algo que acrescenta dramaticidade ao desafio da virada televisiva. Mesmo no caso do FHC-1994, a utrapassagem começara a ser produzida numa recuperação que as pesquisas registravam desde junho.
Do Blog Bastidores do Poder - Foto: Evaristo Sá/FP
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