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8 de maio de 2010
"Arqueologia em Altaneira" por Heloisa Bitu Ferraz
A arqueologia, desde criança, foi minha maior aspiração. Lembro-me das fitas VHS gravadas e regravadas dos filmes de Indiana Jones e dos programas da TV, com qualquer notícia dos “achados” e das descobertas no Brasil, que eu religiosamente assistia todos os dias como se tivesse vendo pela primeira vez. O meu maior sonho era conhecer os Sítios de Registro Rupestre da Serra da Capivara-PI, fato que me ocorreu em 2005, quando juntamente com Fabrício (esposo) e nosso amigo Cícero fizemos nossa 1ª aventura, numa moto Honda 125, e enfrentei os 700Km de garupa ainda com 48 dias da cesariana dos gêmios! Voltei decidida: deixaria tudo em busca dessa profissão.
Até que, em 2007, eis que me bate à porta o nosso amigo Itinho contando-nos sobre umas panelas pintadas que eles fortuitamente encontraram no sítio Tabuleiro quando “carregavam” barro no caminhão. Ele nos procurara pelo nosso envolvimento na Fundação ARCA e porque éramos professores no município. Com muito receio ficamos com as peças, guardamos o material de seu interior e cautelosamente conversávamos e estudávamos um meio de fazer com que elas continuassem conosco (em nossa cidade). Foi então que, descobrimos que não tínhamos autorização dentro da lei para ficarmos com as cerâmicas e que escondê-las em nada contribuiria ao nosso município, pois nem mesmo sabíamos quem a fabricara ou para quê serviram.
Escolhemos procurar a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri em Nova Olinda quando soubemos do risco que corríamos de perder as peças para o Museu do Ceará e ver a nossa identidade cultural tão distante de nós. Conheci a professora Rosiane Limaverde, pesquisadora coordenadora do núcleo de arqueologia da Casa Grande e tive nela confiança suficiente para entregar o nosso legado e me tornar sua aluna. Desde então, muito tenho aprendido sobre esta profissão por meio dos livros e dos trabalhos que ela coordena e que tive a oportunidade de participar.
Em 2008, estive pela primeira vez numa escavação arqueológica, como sua assistente no Estudo, Levantamento e Resgate Arqueológico do Sítio São Bento em Crato. Em 2009, trabalhamos para Empresa Itapuí de Barbalha na liberação de uma área para exploração de calcário e na Escavação do Sítio Olho D’Água em Nova Olinda. Neste mesmo ano ela orientou meu trabalho de conclusão da pós-graduação em Biologia e Química na URCA que intitulamos: O ESTUDO DOS AGENTES DE DEGRADAÇÃO DO SÍTIO DE REGISTROS RUPESTRES OLHO D’ÁGUA DE SANTA BÁRBARA EM NOVA OLINDA, CEARÁ, BRASIL; o primeiro na área que pretendo me especializar que é a conservação de sítios de pinturas rupestres.
Recentemente, afastei-me da profissão de professora em nosso município para preparar-me para o mestrado em Arqueologia e Conservação do Patrimônio pela UFPI e continuar aprendendo e trabalhando na área.
No momento, estamos realizando os estudos arqueológicos no Esgotamento Sanitário de Santana do Cariri, uma obra que, provavelmente, irá nos manter em campo por um ano e meio. Aquelas peças que revolucionaram outrora a minha vida estão expostas no Memorial do Homem Kariri na Fundação Casa Grande em Nova Olinda tendo por doador o Sr. Itinho que as encontrou; um especialista em cerâmica que por lá esteve classificou-as como vestígios da cultura indígena tupi-guarani.
Outra parte dos achados foram entregue, posteriormente, e encontram-se na reserva técnica esperando a ampliação do laboratório, momento em que estaremos adquirindo meios para realizar datações e descobrir muito mais sobre este material e sobre os povos que habitaram a nossa região. O Tabuleiro também já se encontra catalogado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como um sítio cerâmico importante passível de levantamento arqueológico, fato que muito nos interessa para o andamento das pesquisas.
Quem sabe também, não é a chance de entrarmos (nós, altaneirenses) de vez na rota do turismo no Cariri e formarmos enfim a sua primeira arqueóloga?
Sonhar, não custa nada!
Heloisa Bitu Ferraz é professora da Escola Estadual Santa Tereza em Altaneira
O que seria do homem sem os seus sonhos?
ResponderExcluirÉ isso aí Helô! Insista e não desista.