A
hipótese de Gaia, também denominada hipótese biogeoquímica, é uma hipótese da
ecologia profunda que propõe que a biosfera e os componentes físicos da Terra
(atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera) são intimamente integrados de
modo a formar um complexo sistema interagente que mantém as condições
climáticas e biogeoquímicas preferivelmente em homeostase.
Originalmente
proposta pelo investigador britânico James E. Lovelock em 1972 como
"Hipótese de resposta da Terra", ela foi renomeada conforme sugestão
de seu colega, William Golding, como Hipótese de Gaia, em referência à
mitológica titã que personificava a Terra: Gaia.
A
hipótese é frequentemente descrita como a Terra sendo um único organismo vivo,
mas é uma definição inexata. Lovelock e outros pesquisadores que apoiam a ideia
atualmente consideram-na como uma teoria científica, não apenas uma hipótese,
uma vez que ela passou por testes de previsão.
James
Lovelock desenvolveu a hipótese após participar de uma equipe da NASA que
analisou a possibilidade de existir vida em Marte. Ele publicou seus primeiros
textos em 1972, e logo passou a contar com a colaboração decisiva da
microbióloga norte-americana Lynn Margulis, que se manteve por décadas. Seu
ponto de partida foi o estudo da composição da atmosfera terrestre, que, segundo
eles, seria muito diferente da esperada para um planeta situado na posição
entre Vênus e Marte (a chamada zona habitável do Sistema Solar), por conter, em
sua composição, grandes quantidades de certos gases como o oxigênio, óxido
nitroso e metano. Segundo sua proposição, essa composição só poderia ser
explicada pela interferência dos organismos vivos sobre o ambiente inorgânico.
A partir disso, analisando outras evidências, foi postulado que, após surgir em
um planeta deserto, a vida assume o controle do ambiente inorgânico e passa a
modificá-lo em seu próprio benefício, a fim de que a vida possa se perpetuar,
formando, nesse processo, um sistema complexo e autorregulante, que chamou de
Gaia. Na sua visão, os componentes inorgânicos como a atmosfera são
considerados parte da biosfera, porque são integrados intimamente ao processo
evolutivo da vida. Ao mesmo tempo, eles questionavam a própria definição do que
é vida e do que é um organismo vivo.
Apesar
de reconhecer que ainda havia um longo caminho a ser percorrido antes de que a
existência de um sistema terrestre autorregulante como o descrito fosse
provada, esses questionamentos criaram uma zona difusa na definição clássica da
vida, e levaram muitos a acreditar que estava sendo postulada a ideia de que a
Terra seria ela própria um ser vivo dotado de alguma forma de inteligência e
propósito, o que não corresponde à hipótese como ela foi articulada
originalmente. O batismo da hipótese com o nome de uma deusa grega — uma
sugestão de seu amigo, o escritor William Golding — junto com outras opiniões
heterodoxas de Lovelock, só fizeram aumentar a confusão e a rejeição de toda a
hipótese pelos cientistas alinhados ao darwinismo, embora ela fosse abraçada
com entusiasmo pelos ambientalistas da época.
É
importante distinguir entre essa impressão e a proposição original, a de que a
vida assume o controle da Terra e a modifica, passando a formar um sistema
ampliado e dinâmico que se comporta "como se fosse" um todo vivo.Segundo
Lovelock, essa "entidade viva" é apenas uma metáfora para os
processos biológicos atuantes no planeta, onde as criaturas concorrem para
controlar uma variedade de componentes do sistema inorgânico, como a
temperatura do globo, a composição do solo e da atmosfera, da salinidade dos
mares, e outros, que podem ser comparados aos processos internos de um ser
vivo, como a regulação da temperatura corporal, da composição do sangue e outros.
Posteriormente ele esclareceu esses enganos interpretativos em palestra na Universidade das Nações Unidas:
Posteriormente ele esclareceu esses enganos interpretativos em palestra na Universidade das Nações Unidas:
"Nossa
primeira definição do conceito foi: 'A vida regula o clima e a composição da
atmosfera mantendo-os em um estado ótimo para si mesma". Mais tarde
percebi que a definição era errônea. O que devíamos ter dito é: 'O sistema como
um todo — a vida e seu ambiente material — regula a si mesmo em um estado
confortável para os organismos".
Isso pode lhes parecer uma boa definição, mas nos tornou vulneráveis à crítica de que havíamos proposto uma Gaia consciente e capaz de controlar a Terra conscientemente. Nada está mais longe de nossa ideia do que isso. Desde o início, entendemos Gaia como uma interpretação dos sistemas da Terra, como a ciência dura de um químico que se interessa por teorias de controle. Jamais imaginamos qualquer tipo de corrente New Age de pseudociência.
Isso pode lhes parecer uma boa definição, mas nos tornou vulneráveis à crítica de que havíamos proposto uma Gaia consciente e capaz de controlar a Terra conscientemente. Nada está mais longe de nossa ideia do que isso. Desde o início, entendemos Gaia como uma interpretação dos sistemas da Terra, como a ciência dura de um químico que se interessa por teorias de controle. Jamais imaginamos qualquer tipo de corrente New Age de pseudociência.
Em
1979, ele publicou um livro que se tornou popular no movimento ambientalista,
Gaia: Um Novo Olhar sobre a Vida na Terra, atraindo também a atenção de vários
cientistas, que passaram a dar mais atenção ao que ele propunha. Porém, é fato
que suas concepções tinham implicações transcendentais. Stephan Harding, seu
colaborador, assim as descreveu:
"Uma
abordagem [da vida] na perspectiva de Gaia abre novas portas para a percepção e
amplia nossa visão da interdependência de todas as coisas do mundo natural. Há,
nesse relacionamento, uma qualidade sinfônica, uma qualidade que transmite uma
magnificência indizível. Quando você se coloca em um penhasco à beira do mar,
durante o inverno, observando as massas de nuvens cinzentas rolando, uma visão
Gaia ajuda a entender a nuvem em seu contexto global. Ela se forma devido a
imensas forças climáticas e se manifesta em um pequeno ponto do todo — o ponto
em que você está. A água da nuvem circulou ao longo do ciclo da água, desde a
chuva até o rio, do rio para o mar, do mar para os cocolitóforos, e de lá de
volta para a nuvem. À medida que você experimenta esta realidade dinâmica e
sempre mutante, você pode subitamente se encontrar em um estado de meditação,
um estado em que você perde o senso de ser uma entidade separada, e é
totalmente envolvido pelo processo vital que contempla. O contemplado e o
contemplador se tornam um só. Desta unidade surge uma apreciação profunda da realidade
da interdependência, e disso nasce a urgência de se envolver no combate a todo
tipo de abuso da natureza. Disso nasce o sentimento de que o que acontece na
evolução tem um grande valor e um significado impossível de articular ou
descobrir através do reducionismo da metodologia científica. Esta sensibilidade
altamente desenvolvida, essa experiência de conectividade radical, é a marca
dos apoiadores da ecologia profunda, e é a base para a elaboração de qualquer
filosofia ecológica".
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.